Era uma quinta-feira quando me sentei no consultório médico. Eu meio que já sabia o diagnóstico: minha retina havia rompido outra vez. Isso já tinha acontecido há cinco anos no meu olho direito, agora via (ou não?) tudo acontecer de novo no olho esquerdo. O motivo? Meus olhos são assim, difíceis. Fiz cirurgia refrativa em 2002 para “remover” a miopia, fiz vitrectomia em 2019 para “consertar” a retina direita, fiz facectomia bilateral em 2024 para “tirar” a catarata e agora fiz retinopexia pneumática para “colar” a retina esquerda. Isso me custou 15 dias de repouso deitada sobre meu lado esquerdo e muito tempo para pensar.

Minha vida está cheia de “ses” e imagino que a vida de muita gente esteja na mesma.
Tem o “se” da mudança: e se eu largasse tudo e fosse fazer algo que gosto? E se eu mudasse de país e fosse tentar a vida em um lugar melhor? E se eu rompesse aquele relacionamento que não é mais romântico e já se tornou um fardo? E se eu tirasse um ano sabático? E se?
Tem o “se” da incerteza: e se eu perder meu emprego? E se eu ficar doente e não puder mais trabalhar? E se meu <insira seu relacionamento romântico aqui> me abandonar? E se eu parasse de enxergar?
No meu mundo número 2 (o mundo do Direito), chamamos isso de elemento condicional: um evento futuro e incerto que, acontecendo, produz efeitos sobre os negócios jurídicos a que estão condicionados.
Evento futuro. Incerto. E não sei qual nos arrebata mais, se é a possibilidade de acontecer ou não. Até porque nossos “ses” quase sempre vem carregados de uma enorme dose de negatividade e pessimismo. Se fosse diferente, “ses” deixariam todo mundo feliz.
Aí, quando fiquei com tempo para pensar e refletir sobre o futuro, me dei conta de que ele está aqui, sentado na sala e olhando para mim, e que eu posso deixar que as coisas aconteçam e lidar com elas depois (mais me parece um “jogar a sujeira para baixo do tapete” se a sujeira não for grande demais e prejudicar a decoração do ambiente) ou fazer com que aconteçam e lidar com os “ses” que virão.
O problema é que fazer acontecer envolve a responsabilidade do sucesso e do fracasso (e só o último importa porque só ele dá medo). Se o futuro se mexe e me joga no chão com uma trombada, eu posso colocar a “culpa” no destino, nas pessoas, no universo, em Deus. Agora, se eu levando do sofá e vou lá me mexer antes que o futuro me acerte, a “culpa” do que vier será minha e apenas minha (quem mandou eu sair do conforto para me aventurar no mundo?).
Eu olho para os boletos e desisto do se.
Olho para meu filho e volto para o se.
Olho para minha conta bancária e desisto outra vez. Nada de se quando precisamos de dinheiro para viver.
Olho para meus exames médicos e volto para o se.
Olho para trás, vejo tudo que já fiz, mais uma desistência. Afinal, eu investi tanto em mim para simplesmente deixar para lá?
Olho para frente e penso que nunca é tarde para um novo investimento pessoal.
Sei lá o que vem para mim em 2025, mas uma coisa posso garantir: eu e o elefante na sala já tomamos um café e estamos traçando alguns planos de dominação.

Enquanto isso, no mercado literário…
Porque fiquei afastada por muito tempo, não me atualizei das novas tretas relevantes. No entanto…
Piratear livros é errado, não importa a sua justificativa.
Plot é enredo, plot-twist é reviravolta. Um livro “sem plot” não é um livro sem reviravoltas, apenas um livro sem história para contar (já que enredo = historinha).
O plot do livro não é algo que a gente “descobre” e fica “perplexa”. Teoricamente, a gente se depara com o plot na sinopse.
Sinopse não é spoiler.
Alerta de gatilho não é expressão guarda-chuva para qualquer assunto que possa te deixar desconfortável, assim como não é sobre você.
A melhor forma de não pegar um livro com temas desconfortáveis é escolhendo pela sinopse e gênero. Se o livro é de terror, a gente imagina que tenha… terror? Se não gosta, passe longe. Viu? Dá certo.
Grupos de engajamento são uma grande furada para redes sociais. Pode melhorar o seu engajamento, mas torna seu perfil muito pouco atraente para quem vai adquirir seus produtos.
Capa ilustrada não é capa infantil. Existem desenhos e ilustrações feitas especialmente para pessoas adultas. O fato de uma capa ser ilustrada não infantiliza o livro porque, outra vez, nem todo desenho é para crianças. Quer saber para que classe etária o livro é indicado? Leia a sinopse, a indicação do livro, as reviews e veja a categoria em que ele está inserido.
Recomendações da semana
A newsletter fenomenal da Bia Montenegro, Como Mudar de Vida. Vale cada minuto de leitura.
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